Um problema sintomático que as cidades do interior do Brasil estão vivenciando, e que a cada ano tem se tornado um agravante e, ao mesmo tempo, um desafio para o poder público e a sociedade. O envolvimento de jovens com o mundo das drogas e a violência caminha de forma aproximada e crescente.
A constatação dessa triste realidade mostra que a interiorização desses casos tem levado jovens à criminalidade e até à morte. Uma pesquisa levantada no Cariri, entre os anos de 2009 e 2011 demonstra a gravidade dessa realidade. Há registros na Região Metropolitana do Cariri (RMC) de 552 homicídios, nesses dois anos. Desses casos, 95 homicídios forma registrados apenas no primeiro ano, em Juazeiro do Norte.
A situação em cidades de porte médio, a exemplo de Juazeiro, levou o doutor em sociologia da Universidade Regional do Cariri (Urca), Antônio dos Santos Pinheiro, a desenvolver um estudo, com outro pesquisadores, e lançar o livro Juventude - Violência e Drogas, em que explicita os desafios às políticas de segurança que devem ser desenvolvidas nessas áreas.
São garotos, em sua grande parte, de 15 a 24 anos, de bairros periféricos de maior cidade da RMC. Grande parte dessas vítimas é formada de negros, pobres e moradores das áreas mais desassistidas das cidades, em áreas onde as políticas públicas demonstram carência de atendimento a esse público juvenil.
Estudo
Para o pesquisador, trata-se de uma média considerada alta dentro da realidade de localidades que há poucos anos eram consideradas bem mais tranquilas, em relação à quantidade de casos de assassinatos e ocorrências criminosas envolvendo jovens.
Situações relacionadas à problemática vêm sendo objeto de estudo do docente há vários anos. Ele também possui pesquisas também na área de polícia comunitária. O trabalho foi desenvolvido em conjunto com o também sociólogo, Wendell de Freitas Barbosa, que realiza estudos de sociologia do conflito e o sociólogo, e o sociólogo Dennys Helber da Silva Sousa.
A pesquisa realizada em Juazeiro do Norte teve com base, dados publicados em 2011 de uma pesquisa feita sobre jovens no Brasil, denominada Mapa da Violência de 2011. "Tentamos identificar dados no Cariri, relacionados à essa questão que o mapa mostrou. Duas delas, bem pontuais, são o ´juvenecimento´ e a sua interiorização", afirma.
Segundo o sociólogo, isso quer dizer que tem ocorrido mais casos de violência no interior do Brasil, com o deslocamento dos crimes para as pequenas cidades, e particularmente o envolvimento de jovens em práticas criminosas, como os furtos, roubos, e a questão das drogas, particularmente o crack.
Ausência
De acordo com o Antônio dos Santos, o deslocamento dessa problemática da Capital para o interior do Estado, está principalmente relacionado à ausência de políticas públicas, mais no interior do que nas capitais.
Projetos que propiciaram o envolvimento dos jovens com a arte, o esporte, com investimentos maiores nas capitais, incentivaram e propiciaram uma diminuição nos casos de violência.
Essa é uma realidade que inexiste na maioria das cidades do interior do Estado. A limitação de recursos e até mesmo a falta de uma maior sensibilidade criativa para mitigar o problema vêm sendo postos de lados por gestões administrativas após gestões. "O interior, por escassez de políticas dessa natureza, tem sofrido um impacto maior nesse deslocamento", diz.
Homicídios
Em relação aos casos de homicídios na cidade, o professor ressalta a sua preocupação. Esses jovens aparecem no mapa da violência e estão classificados na faixa etária 15 a 24 anos, e são negros e pobres em sua grande maioria. Ele cita programas como o Cuca em Fortaleza, que tem dado efeitos positivos, na diminuição dos casos de violência. Em Juazeiro do Norte, o projeto Atleta Cidadão, desenvolvido no Caic, Mutirão.
Para Antônio dos Santos, esse pode ser qualificado na perspectiva de prevenção da violência, além do Proerd, mas a contribuição de ações dessa natureza ainda são muito tímidas.
Uma das maiores dificuldades de trabalhar as informações, é que muitos dados não estão revelados nos processos, como a relação da criminalidade com o mundo da drogas. "Sabemos, a partir do contexto, muitas das práticas", afirma. "A polícia conhece bem esses jovens e de onde vem", diz.
Crimes
95 homicídios foram registrados apenas no primeiro ano, em Juazeiro do Norte. A prática dos crimes são de jovens entre 15 e 24 anos de idade.
Mais informações
Universidade Regional do Cariri (Urca)
Departamento de Ciências Sociais
Crato
Telefone: (88) 31021213
ELIZÂNGELA SANTOS
REPÓRTER
Fonte: Diário do Nordeste