Um equipamento de R$ 270 mil, para início de obras até março do próximo ano. O Museu de Arqueologia será construído, em princípio, para que sejam repatriados os materiais descobertos durante escavações realizadas na região de Coité, na zona rural deste município.
O local é conhecido, principalmente, pelas pinturas pré-históricas ali encontradas. Tombada em 18 de dezembro de 1998 como Patrimônio Histórico Cultural do Município, através da Lei Municipal nº338, a Pedra da Letra, principal área das descobertas, é visitada frequentemente para realização de estudos científicos. Por lá já foram descobertas ferramentas líticas, cerâmicas e pinturas da era paleozoica, segundo os estudiosos. A maior parte destes documentos arqueológicos encontra-se em diferentes pequenos museus do país.
O projeto para construção do Museu foi aprovado pelo Ministério da Cultura (MinC), em Brasília. Os trabalhos deverão ser iniciados tão logo o município de Mauriti cumpra alguns critérios apresentados pelo Instituto do patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), responsável pelo acompanhamento das etapas de construção e funcionamento do equipamento.
A construção da unidade também é comemorada por professores da Universidade Federal do Cariri (UFCA), que defendem a ampliação de pesquisas nas áreas onde descobertas já foram feitas. Outra região de importantes descobertas é a Pedra do Letreiro, localizada no distrito de Anauá. O local é famoso por possuir inúmeras pinturas rupestres. Com facilidade, é possível perceber desenhos circulares e ondulares. Também é perceptível a figura de um corpo humano, onde se destacam as regiões da cabeça, braços e pernas.
Na região também foram realizadas campanhas arqueológicas nos anos de 2005, 2006 e 2008. Em Anauá, pesquisas levaram à primeira datação de Carbono 14 no Ceará, impondo, de tal maneira, necessária revisão de toda a historiografia sobre a ocupação dos índios tupi no território cearense.
Conforme historiadores que residem no município, devido ao primeiro registro arqueológico do Ceará ter ocorrido em Mauriti, no ano de 2006, diversas entidades acadêmicas passaram a demonstrar interesse na busca por novas descobertas. Na avaliação de alguns estudiosos, caso haja comprovação de que o município serviu como local de entrada de tribos indígenas oriundas de outros estados, como a Paraíba, por exemplo, mudanças poderão ser contextualizadas em relação ao povoamento de toda a região.
Sítios
Para a arqueóloga Rosiane Limaverde, a região, além de abrigar a população formada pelos índios Kariris, também serviu como área de moradia e abrigo a inúmeras outras tribos. A teoria da estudiosa se baseia após amplo levantamento realizado em 16 sítios arqueológicos encontrados na região.
Além dela, alguns pesquisadores defendem que as tribos realizaram o deslocamento de seus povos para a região devido à existência de mananciais perenes de água. As diferentes tribos teriam, em tese, percorrido o leito destes mananciais até se fixarem em diversas localidades da região. Além de Mauriti, os municípios de Missão Velha, Crato, Nova Olinda, Santana do Cariri e Araripe teriam sido povoados pelas tribos indígenas.
Na avaliação do prefeito do município, Evanildo Simão, a criação do Museu Arqueológico de Mauriti também poderá ser responsável pela ampliação do trade turístico local, a partir de parcerias firmadas com outros municípios. Conforme avalia, mesmo com a região despontando como polo de desenvolvimento econômico devido o crescimento dos diversos setores produtivos, o Cariri ainda apresenta déficit em relação ao seu setor turístico, devido à falta de organização na amostragem do potencial existente. "O Cariri é rico em relação à oferta de opções para prática do turismo, seja ele religioso, arqueológico, científico ou de entretenimento. Há condições de se construir uma verdadeira teia de ofertas para pessoas que ainda não conhecem a nossa região e que poderiam ter interesse em vir ao Cariri, a partir da percepção da riqueza existente em torno da figura de Padre Cícero, em Juazeiro do Norte", avalia Evanildo Simão.
Roteiro
Ele defende que haja a participação de outros segmentos na defesa de parcerias para construção de um roteiro turístico que possa abranger vários municípios do Cariri e que a Secretaria de Turismo do Estado também precisa ser provocada neste sentido.
"O governo do estado sempre demonstrou interesse em auxiliar o desenvolvimento das regiões sobre todos os aspectos. Não vejo dificuldades da Secretaria do Turismo colaborar com os municípios na construção de um novo roteiro turístico", afirma Simão, verificando que a Universidade Federal do Cariri também precisa estar presente nas discussões que possam resultar no alavancamento do turismo no Cariri. "Principalmente no contexto arqueológico e cientifico. A Universidade poderá gerar inúmeras conquistas aos municípios, a partir da realização de programas de extensão e pesquisa. Ampliaria a condição de conhecimento dos alunos e garantiria uma espécie de certificação aos municípios", diz o gestor.
O Museu Arqueológico de Mauriti, além do conhecimento científico que oportunizará a população do município e aos futuros visitantes, também garantirá o surgimento de novas oportunidades de emprego na cidade. Atualmente, não há serviços de guia oferecido aos visitantes que querem conhecer as áreas onde materiais arqueológicos já foram encontrados.
"Com a chegada do Museu, evidente que se faz necessário que parte da nossa população esteja preparada não só para receber os turistas, mas, também, para garantir conforto, comodidade e segurança a estas pessoas. Nós já estamos buscando parcerias para que cursos possam ser ministrados, principalmente, aos nossos jovens, nas áreas de atendimento, serviços, recepção, enfim, situações que garantem a oportunidade de novos empregos", afirma."Não basta apenas oferecer atendimento qualitativo através de guias ou de atendentes no futuro equipamento se o município não detiver de hotéis e pousadas que possam também garantir conforto aos visitantes", disse.
Fonte: Diário do Nordeste
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