Os caretas invadem as ruas deste Município, com humor e irreverência, seguindo uma tradição de mais de 200 anos. Eles são centenas, com suas máscaras multicolores e criativas, roupas velhas e até bem estilosas. A Festa dos Karetas, que movimenta a cidade durante a Semana Santa, foi encerrada ontem, com a tradicional malhação de judas e premiação das máscaras mais criativas. No fim da tarde, foi realizado cortejo pelas principais ruas da cidade com o Judas, que, neste ano, assumiu um caráter diferenciado. A escolha foi pelo vilão da dengue, o mosquito Aedes aegypti.
Ao amanhecer do dia, os chocalhos avisam que os caretas estão soltos por todos os cantos. A festa começa. Em mercados populares, ruas do centro, sítios, eles aparecem por todos os locais. Às 15 horas se concentram para o cortejo, no Estádio Municipal, onde, nos últimos dias, tem se realizado as festividades.
Um dos organizadores do evento, Fábio Caetano Barbosa, agente de endemias, enfatiza a importância da escolha da temática da dengue. Ele disse que essa foi uma oportunidade de as pessoas refletirem mais sobre os cuidados, já que todos os anos a figura do Judas era inspirada principalmente em corruptos ou malfeitores. "A dengue é um problema, não apenas no Brasil, mas em vários países", afirma.
Mesmo sendo algo diferente, ele acha que não descaracteriza a festa. "A gente decidiu tirar um pouco o foco do personagem em si. Esse mosquito vem aterrorizando o País", justifica. No nosso município, outras comunidades realizam a malhação, principalmente na zona rural.
Todos os anos o estudante Lavoisier de Lira Chagas Sousa, vem de Serrita, em Pernambuco, para a festa, e aproveita para brincar. Ele achou estranho, neste ano, a escolha do Judas. "É muito esquisito esse mosquito, mas chama mais a atenção da população", disse.
O estudante Fernando Lucas de Sousa chegou a ganhar o concurso de careta por alguns anos, mas, neste, não foi muito fácil inovar na máscara, pela temática diferenciada. O grupo que ele está à frente tem cinco integrantes. Caso chegue a ganhar mais uma vez, poderá alcançar uma premiação significativa. Neste ano, os ganhares têm disponíveis premiações que chegam a R$ 5 mil, um estímulo para muitos participantes, que saem dos sítios para concorrer na cidade.
Fernando Lucas, todos os anos sempre gostou de brincar e afirma que, de qualquer forma, conseguiu se inspirar nos exterminadores do mosquito. Já buscou personagens da seca do sertão, desmatamento, e outros. Neste ano, ele dá o recado dos cuidados e previne a população para não facilitar.
E a criatividade vai desde a confecção do mosquito ao exterminador do Aedes. De "japonês da federal" aos pacientes em macas, transportados por caretas representando a morte. "É uma brincadeira séria e que chama a atenção de toda a sociedade", alerta Fábio.
O presidente da Associação Cultural dos Karetas de Jardim, o artista plástico Luiz Lemos, diz que, neste ano, a temática traz algo que chama a atenção pela ameaça à sociedade. "Um vilão que trouxe para o tema da festa um assunto importante", disse.
O artista todos os anos é o principal idealizador do "Judas". A associação da qual faz parte existe há três décadas, mas a festa é bem mais antiga. São mais de 200 anos de tradição. Desde o século XIX que os moradores da zona rural gostavam de festejar o início da colheita. As pessoas faziam espantalhos e a malhação era com tiros de espingarda. Hoje, após ler o testamento e sair pelas ruas em cortejo, o mosquito explodiu no Estádio Municipal, no começo da noite.
ELIZÂNGELA SANTOS
REPÓRTER
Fonte: Diário do Nordeste
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