
Em sua terceira edição, "A Guerrilha do Ato Dramático Caririense" está realizando apresentações teatrais em vários locais da cidade do Crato. Na primeira etapa do ato, foram oferecidos ao público seis peças de rua. Agora, até o próximo dia 26, os espetáculos acontecerão no Teatro Rachel de Queiroz. Ao todo, 26 grupos de teatro, dança e circo irão passar pelo evento. "A Guerrilha" é uma realização da Sociedade Cariri das Artes e Companhia Cearense de Teatro Brincante, em parceria com a Sociedade de Cultura Artística do Crato.
"A Guerrilha do Ato Dramático Caririense" vem consolidando-se como a grande vitrine das artes cênicas do Cariri, onde as companhias veteranas e recém criadas têm espaço garantido para darem seu show. O evento tem como proposta principal a apresentação de peças teatrais focadas na dramaturgia e encenação produzidas na região do Cariri. O momento dos espetáculos é também o instante inserção das produções caririenses no contexto nacional, já que há seminários e discussões sobre as artes cênicas no País, o que ainda proporciona o fortalecimento às companhias e grupos teatrais, estimulando o aperfeiçoamento técnico e profissional.
Crescimento
A participação dos artistas procede crescendo, desde a criação do evento, no ano de 2009, quando apenas nove companhias compartilharam o palco. Foram 16 espetáculos mobilizando cerca de 3 mil espectadores de todas as idades. O ato revelou a vitalidade das artes cênicas e o potencial de plateia caririense. Já em 2010, a Guerrilha proporcionou 43 espetáculos de companhias de Araripe, Crato, Farias Brito, Jati e Juazeiro do Norte, nas modalidades teatro de rua, arena, à italiana, intervenções e performances.
O movimento inclusivo surgiu à partir da negação de espaços aos grupos em grandes mostras que acontecem na região. "A Guerrilha" iniciou-se depois que os artistas e produtores da região do Cariri perceberam a insatisfação do público com relação ao número reduzido de apresentações que eram feitas.
Movimento
Então, os produtores do evento resolveram agir, criando um movimento de afirmação e divulgação das artes cênicas. Hoje, a "Guerrilha" serve como elemento de difusão dos símbolos culturais que identificam o povo e sua história.
Os novos equipamentos culturais provocaram o surgimento de uma demanda crescente de produção. Estima-se que 5 mil espectadores de todas as idades, especialmente estudantes secundaristas e universitários, assistam as apresentações, aonde 200 atores, técnicos, dramaturgos, encenadores, produtores e pesquisadores em artes cênicas estão envolvidos.
Atualmente, apenas no Crato, existem cerca de 15 companhias produzindo efetivamente. Em todo o Cariri, esse número ultrapassa a média dos 40. A produção anual dos grupos é de, no mínimo, 30 espetáculos novos. No entanto, todas essas obras têm apenas quatro espaços fechados para a realização das apresentações.
Além do evento, no decorrer do ano, as companhias teatrais realizam temporadas chamadas "Guerrilha em Movimento", já que "A Guerrilha do Ato Dramático Caririense" representa a coroação de toda a produção anual. O evento recebe o patrocínio do Instituto Cultural Banco do Nordeste e da Prefeitura Municipal do Crato.
Diversidade
Em cada noite do evento são realizadas duas apresentações teatrais, aonde o público pode conferir uma grande diversidade de estéticas. Os perfis das peças contemplam o drama, comedia, tragédia, dança e circo. Além dos espetáculos infantis.
Na criação, os grupos baseiam-se em diversas linhas de pesquisas, que vão da cultura popular a contos literários. Para o ator e dramaturgo Cacá Araujo, o diferencial da "Guerrilha" está na gestão compartilhada pelas companhias. "Tudo é feito em conjunto. A gente define desde a estrutura da ´Guerrilha´ até os objetivos políticos, que são a defesa de maiores oportunidades de financiamento e criação de canais de intercâmbio e circulação. Tudo culmina na mais legítima apresentação das artes cênicas do Cariri", afirma.
Mas, apesar dos avanços na disponibilidade dos equipamentos artísticos, as companhias da região ainda enfrentam carências no financiamento das produções. Todo gasto com figurino, maquiagem, cenografia, iluminação e sonoplastia são custeados pelos próprios grupos.
As dificuldades são muitas, chagando ao ponto de alguns artistas terem que fazer empréstimos bancários para pagar as contas dos espetáculos. Porém, como forma de incentivo à cultura, em algumas ocasiões, eles são contemplados com editais públicos e com financiamentos municipais. De acordo com o produtor cultural e ator, André de Andrade, esse é o evento de artes cênicas mais importante da região. "É a oportunidade que os atores e produtores têm de mostrar o que é feito no Cariri. Outros eventos do gênero trazem para cá o teatro produzido em outras regiões do Brasil, isso é ótimo. Mas, é muito melhor quando o Brasil pode ver o nosso teatro".
MAIS INFORMAÇÕES
Teatro Rachel de Queiroz
Rua Dom Quintino- Centro
Município do Crato
Telefone: (88) 3523.2168
COMPANHIA DE TEATRO BRINCANTE
Resgate da cultura da região
Um dos grupos que também fazem a promoção do teatro do Cariri é a Companhia Cearense de Teatro
Em todas as edições da "Guerrilha do Ato Dramático Caririense", a Companhia Cearense de Teatro Brincante deu sua contribuição em espetáculos teatrais. Criada em 2005 pelos atores Cacá Araújo, Orleyna Moura, Jonyzia Fernandes, entre outros, a companhia tem trabalhos fundamentados na cultura tradicional popular. A dramaturgia do grupo é toda voltada para o resgate da mitologia sertaneja, contos, causos populares. Além, também, da história do povo caririense.
O processo de "carpintaria teatral" que envolve espetáculos técnicos são pesquisados em movimentos de cantorias, folguedos, repentes e cantadores que representam a identidade da cultura nordestina. O grupo encara os símbolos culturais como expressões universais.
Mistura
De acordo com um dos fundadores da Companhia, Cacá Araújo, os símbolos são resultantes de um "caldeamento de mundos", ou seja, a mistura de culturas, etnias, saberes e fazeres artísticos, derivados das culturas indígena, africana e ibérica. A companhia tem uma relação muito estreita com a comunidade de mestres e brincantes de todo o Município e da região do Cariri, artistas de variadas linguagens e modalidades, estudantes de escolas públicas e privadas, universitários, intelectuais e movimentos populares. Os artistas do grupo atuam nas praças, comunidades de cultura popular e em teatros.
Uma das principais produções da Companhia Cearense de Teatro Brincante é a peça teatral intitulada de "A comédia da maldição", que já está em cartaz há seis anos. O espetáculo aborda o mito da mula sem cabeça. A peça é escrita em versos populares, típicos dos trovadores medievais, o espetáculo já foi apresentado em várias cidades do Estado do Ceará, inclusive na Capital, e no Município de Souza, no Estado da Paraíba. Tamanho foi o sucesso que a peça alcançou voos maiores. No próximo ano, o espetáculo seguirá para uma turnê que será exibida em continente europeu.Cerca de 20 mil pessoas já viram "A comédia da maldição", nas modalidades rua e palco.
O também ator e diretor, Cacá Araujo, diz que o espetáculo gera uma identificação muito grande no público. "A gente vê o nosso reconhecimento na satisfação do público que se identifica e muito com o espetáculo. Esse é o motivo da peça estar tanto tempo em cartaz", afirma.
História
A história da peça conta o caso de uma bela moça que, no dito popular, se "amanceba" com um padre e é condenada a maldição de virar mula sem cabeça. 11 atores estão envolvidos na história, que também foi apresentada durante a "Guerrilha do Ato Dramático Caririense".
Entretanto, o mais novo espetáculo da Companhia Cearense de Teatro Brincante é a peça "A donzela e o cangaceiro", que foi exibida ontem, pela quarta vez no Crato. A peça representa uma manifestação em defesa da ecologia e do meio ambiente, especificamente, do Sítio Fundão. O espetáculo resgata o mito da caipora, que na mitologia popular é a deusa protetora dos animais e da floresta.
Para os artistas, as apresentações são uma forma de homenagear o ecologista Jeferson de Franca Alencar e também o seu neto, Ed de Alencar, proprietários do Sítio Fundão, que por muito tempo, durante a sua posse, foi uma localidade onde a natureza, como um todo, se manteve preservada.
Crítica
A peça traz uma forte crítica às tradições norte-americanas, que, na visão do autor, agridem a natureza, a vida humana e a soberania dos povos. Em uma das cenas, a peça conta um pouco sobre a ação depredadora do homem pelo lucro, contextualizando o drama com o episódio da instalação de uma fábrica de sapatos na cidade do Crato, fato que provocou a destruição de uma parte da mata nativa do Sítio Fundão.
YAÇANÃ NEPONUCENA
Repórter
Fonte: Diário do Nordeste