Produtores do setor extrativista da macaúba e da fava danta estiveram reunidos durante o dia de ontem, nas cidades de Crato e Jardim, no Cariri, para tratar da inclusão desses produtos na Política de Garantia de Preços Mínimos.
O debate e levantamento da realidade atual da cadeia produtiva envolveu técnicos da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), por meio da Coordenação Geral de Biocombustível.
Pela manhã, os produtores extrativistas da macaúba estiveram reunidos no Salão Paroquial da Sé Catedral. Eles relataram suas experiências de campo, e os preços que são praticados com a venda o produto, além dos custos atuais de produção. A coleta dos dados para a avaliação foi realizada pelo analista de custos de Conab, Bevenildo Fernandes. "É importante que todas as informações relacionadas à produtividade seja repassada, para que possa ser direcionada uma política ao segmento dos produtores", disse.
Interesse
A mesma realidade é adotada para os produtores da fava danta, produto comercializado principalmente para laboratórios químicos, utilizado atualmente na composição de colírios para pressão ocular e também no tratamento de doenças cardiovasculares. A macaúba, como rico alimento, em que pode ser aproveitada a polpa.
Segundo o técnicos do MDA, há um interesse também relacionado ao uso da amêndoa na fabricação de óleo, e que no futuro também possa ser utilizado com biocombustível. Em Jardim, o debate sobre a fava danta aconteceu no Sindicato dos Trabalhadores Rurais.
Esse trabalho faz parte das ações do projeto da Produção do Arranjo da Cadeia Produtiva da Sociobiodiversidade da Chapada do Araripe, incluindo produtos como macaúba, babaçu, carnaúba, pequi e fava danta, que vem sendo desenvolvido na região do Cariri, por meio da Fundação para o Desenvolvimento do Araripe (FAraripe). Mais de mil famílias da região sobrevivem do setor extrativista.
Segundo o coordenador das atividades pela Fundação Araripe, Cristiano Cardoso, o projeto envolve comunidades dos municípios de Barbalha, Jardim, Santana do Cariri, Missão Velha, Crato, Nova Olinda, dentre outras cidades onde há a produção extrativista.
Com duração de um ano, o projeto tem sido responsável pela integração das comunidades em seminários, oficinas e encontros, para a realização de mapeamento e levantamento da produção nas áreas.
Segundo Cristiano Cardoso, o objetivo do encontro com os produtores é debater o preço atual da produção das espécies e tentar incluir no programa nacional da sociobiodiversidade. No caso da macaúba e da fava danta, há uma discussão mais ampla no sentido de inserir esses produtos na política de garantia de preço mínimo, possibilitando melhores condições de comercialização para os extrativistas. Isso permite, conforme Cristiano, uma subvenção direta ao extrativista, além de incentivar o uso sustentável da espécie.
Levantamento
Para se ter uma ideia, conforme o coordenador, foi feito um levantamento em comunidades de Barbalha, que em período de produtividade, de outubro a fevereiro, chega-se a retirar da área de extrativismo da Macaúba, cerca de 70 toneladas do produto, comercializado no Maranhão e Pará.
O desafio agora é poder quantificar o que é produzido e o que sai da região e ordenar a produção, no intuito de garantir melhor renda para os produtores extrativistas da região da Chapada do Araripe.
Para o agricultor Francisco Guilhermino da Silva, o Chefe, sobreviver do extrativismo é uma alternativa importante e necessárias para muitas famílias da região. Em sua comunidade, no sítio Cruzeiro, no sopé da serra do Araripe, ele chega a coletar até 200 sacos de 30 quilos de Macaúba. O que garante uma renda de R$ 500 por mês, mesmo com a falta de incentivo governamental.
Na sua localidade há pelo menos cinco famílias que sobrevivem com extração do produto. "Temos, antes de tudo, a esperança pelo reconhecimento da nossa atividade e um política de ordenamento dos preços", disse.
Conforme o técnico do MDA, Haroldo Oliveira, essa primeira etapa dos trabalhos está relacionada ao levantamento dos preços da produção. A partir dos dados coletados, caso o produtor esteja com prejuízos, a Conab ira subsidiar, com uma diferença de valor que possibilite uma margem de ganho. Em Crato, o secretário de Meio Ambiente, Stephenson Ramalho, afirma que ainda não foi possível fazer um levantamento de toda a área do Município onde é realizado o extrativismo da Macaúba, mas assegura que esse resultado irá constar num diagnóstico que estará voltado para todos os setores. Produtores já desenvolvidos com a utilização da Macaúba foram apresentados aos técnicos, pela coordenadora do Núcleo de Gastronomia da Secretaria de Cultura do Crato, Soraya Piancó, como a geleia e o povilho, feito de forma artesanal. Segundo ela, vários outros produtos podem ser feitos a partir do uso da polpa do produto, como bolo, suco e sorvete. Atualmente, a maior parte da produção está sendo vendida para estados do Maranhão, São Paulo e Pará.
Manutenção
Para Cristiano Cardoso, o projeto visa, sobretudo, a manutenção de uma cobertura florestal, por meio de uma cultura de sustentabilidade.
"A partir do momento que as famílias têm um sentido para manter aquela espécie sendo utilizada, vai fazer uma manutenção", diz ele. E isso já acontece com espécies da Chapada do Araripe, como o Pequi, a Fava Danta, e a Macaúba, que tem ocorrido com mais frequência na área de sopé, nas escarpas e levadas de água. Segundo ele, a intenção, ao construir o preço efetivo da espécie, é propor ao Governo Federal, dentro da garantia de preços mínimos, com subvenção para essas espécies.
Mais informações
Fundação Araripe (Crato)
Rua Leandro Bezerra, Nº 338
Telefone (88) 3523.1605
ELIZÂNGELA SANTOS
REPÓRTER
Fonte: Diário do Nordeste